Idade das Trevas?

 

 

Atribui-se ao poeta italiano Francesco Petrarca (1304-1374) a origem da expressão posteriormente transformada em “Idade das Trevas”: tenebrae era a forma – um tanto que desdenhosa e irônica – escolhida por este notável escritor medieval para se referir aos séculos que o antecederam. Depois, outros também chegariam com novos apelos designativos, na tentativa de classificar o período histórico que os distanciava da Antiguidade Clássica: aquele era o media temporum, o “tempo médio”, afirmavam. Em seguida, no século XVI, cunhava-se finalmente o termo Renascimento para se referir aos novos tempos dourados que, segundo se acreditava, naquele momento surgiam. Assim, aos poucos, um longo período de cerca de 10 séculos passou a ser considerado mero tempo intermediário, uma idade média isolada, grosseira, onde nada de útil havia acontecido, obscura, a separar o áureo renascimento da gloriosa antiguidade. Logo, o simples desdém se transformaria num verdadeiro preconceito e a Idade Média, cercada por estigmas, viraria sinônimo de escuridão: a Idade das Trevas.

Tais estigmas perduraram por bastante tempo. Porém, graças ao trabalho de vários historiadores (aos poucos falarei sobre eles), sobremodo a partir do século XX, hoje podemos abordar a Idade Média com uma perspectiva mais interessante. Ressalte-se, a nova abordagem não quer dizer proselitismo medieval. Não há uma “defesa da Idade Média”. Apenas vale enfatizar que bem mais existiu ali, além de obscurantismo. Por exemplo, foi nessa época que boa parte da filosofia, como a de Aristóteles, foi encontrada e recuperada; é na Idade Média onde estão as raízes de nossa ciência, quando o homem começou a pensar de forma mais metódica; lá foram construídas as grandes catedrais e no medievo nasceram as grandes cidades européias, suas universidades; há a Cavalaria, seus feitos e ideais, suas lendas e muito mais. As conquistas medievais lançaram os homens europeus às grandes navegações e permitiram a estes a descoberta de novos mundos. Foi a Idade Média que formou e nos deu Nicolau Copérnico (1473—1543) e, de certo modo, foi sua cosmologia a responsável por lançar o homem em busca de mais conhecimento.

Na imagem usada mais acima, no topo da página, vemos um peregrino medieval, certamente monge, que se arrisca, arrastando-se para além dos limites do mundo conhecido. Em suma, penso nessa ilustração como uma síntese do que ocorreu com o homem ao longo daqueles dez séculos de media temporum, pois o medievo é o período histórico no qual o homem, mesmo claudicante e embrutecido pelas condições de vida, arrisca-se em querer conhecer mais, além daquilo transmitido pela autoridade, pelo conhecimento estabelecido.

 

* Texto produzido por Carlos Raposo, retirado do site medievalismo.wordpress.com


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